Foi motivo de discussão, entre os membros de minha lista no facebook, neste ultimo final de semana, o tema levantado pelo jornal O Globo, do dia 04 de outubro, pela matéria intitulada “Entre a descontração e a o descompromisso”, assinada por Leonardo Cazes (leonardo.cazes@oglobo.com.br) e Tatiana Farah (tatiana.farah@sp.oglobo.com.br).  Diz a matéria, utilizando-se de entrevistas feitas com estudantes estrangeiros de Graduação e Pós-Graduação, que o nível de trabalho e comprometimento dos alunos brasileiros seria abaixo de uma média necessária àqueles que matriculados nas universidades brasileiras.

Disso decorreu a “discussão” no facebook. Discutem alguns, a imparcialidade do jornal O Globo e seu comprometimento para com a notícia e seus interesses. De outra parte, discutiu-se o fato de o estudante do Ensino Superior no Brasil, em nível de graduação, não sabe ler e que isso diminui o nível de exigência dos professores, bem como, por consequência, o nível do ensino, refletindo no baixo rendimento e nos resultados abaixo da média, quando avaliados. Por fim, mencionou-se o desinteresse e a falta de capacidade de leitura, em outras línguas, do mencionado “alunado”.

Eu, embora tenha sido chamado ao debate e discussão, preferi abster-me por ser frontalmente contra algumas das observações feitas. Entendo que não posso trabalhar com conceitos que não podem ser entendidos pelo público com o qual trabalho e convivo. Se o fato de alguém não saber ler de forma adequada (porque todos sabem ler, talvez não de forma adequada ou como necessito que saibam), cabe a mim ajudar para que isso possa ser superado. Lembro o fato de que o que necessito não é o ato de saber ler, mas o de compreender, e compreensão vem pelo ler o mesmo tema, de várias formas, escritas por pessoas diferentes, no mesmo tempo ou em tempos diferentes. E isso é HISTÓRIA. Além disso, hoje, um vídeo, um filme, uma revista, uma música, um objeto, ajudam a perceber o objeto, gerando, dessa forma, interesse, que leva a leitura, que consequentemente leva a compreensão. É verdade que isso tudo leva tempo, mas há de haver um tempo para começar. Que comecemos já. Se conseguirmos trazer à luz, um em um grupo de vinte, teremos alcançado o objetivo. Educar não é trabalhar com quem sabe. Educar é construir saber em quem não sabe. Todos gostaríamos de ter bons “alunos”, mas onde estaria nosso trabalho. Bons alunos não precisam de nosso trabalho, apenas de uma orientação, que pode ser a nossa, ou não. Também devo considerar que se este “aluno” chega ao Ensino Superior com dificuldades de ler, ele, antes disso, passou pelo Ensino Fundamental e Médio, no qual eu também estou trabalhando e, portanto, sua deficiência é, também, minha culpa, pois foi meu “aluno”.

Quanto ao fato de uma reportagem ter sido gerada em um tipo especifico de veículo, em um tipo específico de mídia, não significa que ela esta contaminada. Não esta falando a verdade, é tendenciosa. Além do que, eu estou historiador, e como tal devo saber como tratar este tipo de fonte. Que o jornal O Globo é tendencioso é um fato, mas pergunto: existe algum jornal, para não dizer as fontes históricas, que não seja tendencioso em sua geração? Também não gosto, mas não posso deixar de considerá-lo.

Tenho postado em meu blog e em meu facebook vários matérias sobre este tema, falando destes problemas. São oriundas na mídia impressa e digital na Espanha, na França, no México, no Chile, na Argentina e no Brasil. Todos eles dizem a mesma coisa. Indicam para o mesmo ponto. É verdade: nossos “alunos” estão a cada dia mais fracos e desinteressados. Todos somos culpados, mas muito mais que nós, é o Estado, que organiza o saber a ser ministrado aos “alunos”. Caberia a mi, rejeitar essa forma, discutir essas forma e não acomodar-me nela. Exigir cada vez mais de quem não pode é perda de tempo e geração de energia negativa. Necessitamos exigir aquilo que pode ser exigido, de forma diferente em cada um de nossos “alunos”. Caso contrario, estarei formando aquilo que estou rejeitando.

Voltarei ao tema em breve ...